quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Le coeur

O coração quebrado está.
Partido em milhões pedaços.
Brilham suas últimas faíscas
que em uníssono já cantaram.
Emitindo luz tal que se assemelhava ao luar.
Roubou-me o coração inteiro e agora o devolve aos cacos.
Este coração agora descansa em paz.
Ele foi teu e seu permanecerá.
Não mais me pertence o coração inanimado.
Batia por ti, e por ninguém mais pulsará.
Tum.
Último suspiro do coração agora morto.

Cultivo outro agora no lugar.
Bate, coração, bate.
Pulsa forte e novo, abre tuas portas
e, sem lágrimas mais, exalta-te.
Para que possa alguém, um dia quem sabe, vir e me roubar.
E vivo a perder corações.
Mas não me canso de os cultivar.
Muitos, sempre.
Para que veja seus clarões
e, assim, possa, doloso, viver o meu sonhar.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

De ti, já experimentei quase tudo.
A certeza do amor e a dor da incerteza.
Os olhos ardentes de desejo e o sozinho por necessidade.
A tristeza da partida e a alegria incomensurável do reencontro.
Sorrisos incontroláveis e lágrimas incontáveis.
O calor do abraço e a depressão da solidão.
As semelhanças que surgem das diferenças e as diferenças que se exaltam por falta de semelhanças.
O precisar estar junto e o estar junto sem nem precisar.
A vontade de o tempo passar num piscar de olhos para te ter e o interminável rezar para que o tempo pare no momento em que te olho.
De ti já experimentei partilhar casa e comida.
Já experimentei, contigo, tornar a minha e a tua vida em nossa.
Já experimentei, de ti, o amor sem dúvidas e receios. E agora experimento, tudo muito novo para mim, o receio de viver sem o seu amor.
Nova é esta expêriencia, em que tenho que te ter ao meu lado sem abraçar-te, beijar-te ou até mesmo desejar-te, lá no fundo, para que me olhes com ternura e amor.
Novo é o sentimento que tenho que enfiar em mim, sem vontade, de não necessitar ouvir tua voz para que o caos pare.
Novas são muitas coisas.
Será que, na verdade, de ti não experimentei quase nada?

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Número da sorte.

Existem várias formas de amar?
Acreditava eu que não. Amar é amar, ou se ama ou não se ama. Não existe o amar "mas não querer".. Pra mim, tudo sempre foi muito claro, muito simples. Se amo, amo. Se não amo, não amo e pronto.
Se amo, me entrego inteiro, completo, nem um fio de cabelo a menos. Não consigo amar senão entregando minha felicidade, assim, de bandeija, com o sorriso de orelha a orelha.
Mas, como tudo na vida, percebi que não estou certo.
Como se pode definir o amar então, senão o entregar-se sem receios, sem medos de se machucar?
Certa vez ouvi alguém falando que amor, no sentido literal da palavra, é só o de mãe pelo filho. Que o resto todo não é amor, é paixão grande, elevada a tão exponencial grandeza que se confunde com o amor.
Me pego pensando, então, se nunca serei capaz de amar. E, logo, já despacho esse pensamento da minha cabeça, com tamanha raiva que ele voa pra longe.
Claro que não! Todos amam, claro.
Existem aqueles que se entregam, se doam. Apostam todas as suas fichas no n° que acreditam ser o certo. "Você é o meu número". E pronto, a sorte está lançada.
Nesse caso, tem os que tem sorte e os que não tem. Para os sortudos, não consigo imaginar amor maior que esse. Aquele em que você não precisa ter receio do incerto, do desconhecido. Tudo vai dar certo, porque o n° apostado vai ser sempre seu.
Para os não tão sortudos - me considero um destes - a tristeza é grande, pois apostaste em algo que não te retornou o esperado. Ficam sem chão, sem conseguir pensar, o sorriso some e não há o que faça voltar. Mas, ainda assim, aqueles que apostam tudo nunca perdem a esperança de encontrarem o seu número. Aprendem a viver com as derrotas, esperando o dia em que possam falar, em definitivo, "você é meu número", e serem correspondidos à altura.
Fora desse grupo dos apostadores, existem os que não apostam em nada. Tomam o certo pelo incerto e ficam sempre no racionalmente correto para si. Vivem uma vida com a certeza de que o errar vai ser mínimo. Vivem amores, talvez, se os encontrar. Mas nunca vão ser tão intensos quanto os apostadores, isso não. Vivem, amam, riem, mas sempre vai lhes faltar algo. Nunca vão estar completo. E o que vai faltar é o que eles nunca vão poder ter: a intensidade de uma vida vivida com todas as dores e amores que ela pode lhe proporcionar.

Pra mim, não há dor maior do que a realidade de não ter vivido intensamente. Posso ser um apostador sem sorte, mas vivo com a certeza de que não me arrependerei, nunca, de ter deixado algo pra trás e não ter experimentado o viver, uma vez que seja.